Sete
- Psit!
Nicoleta estava distraída fechando o livro e fazendo suas últimas observações.
- Psit! Senhorita!
Tinha alguém chamando por ela. Olhou em volta e só viu dois olhos escondidos atrás da coluna de cimento da sala.
- Está falando comigo?
- Sou eu Srta, Roberto!
- Roberto? Por que está escondido aí dessa maneira?
- Ué. A senhorita me disse para ser discreto.
- Mas não tem ninguém aqui. Não precisava exagerar.
- Bem, senhorita, como quiser. – E saiu do seu esconderijo. – Já está encerrando o expediente? Vim para buscá-la.
- Ah, sim. Só mais um minuto e termino.
- Certo. – Roberto deu uma boa olhada em volta. – Como está suportando isso aqui, senhorita?
- É trabalho, Roberto. Trabalho é trabalho.
- Eu sei, mas...
- Nem mais, nem menos. Se alguém está querendo me assustar com tudo isso vai ver que não conseguiu. Além do mais está sendo muito bom começar aqui de baixo porque eu estou vendo coisas que me deixam abismada.
- Mesmo? O que por exemplo?
- Meu Deus, tantas coisas. Absurdos de todo o tipo.
- Mas o seu tio é uma pessoa tão boa... como pode?
- Também não sei... alguma coisa está muito errada aqui, Roberto. E eu vou descobrir.
- Cuidado, Senhorita Nicoleta, cuidado, por favor... – Roberto ficava todo arrepiado só de pensar no que aquela jovenzinha poderia estar se metendo.
- Não se preocupe, Roberto. Eu sei me cuidar.
- É disso que eu tenho medo...
- Bem, estou pronta. Vamos?
- Sim, vamos. Direto para Botafogo.
- Ah meu Deus. Ainda tem essa. Já havia até me esquecido.
- Temos que ir, Senhorita.
- Bem, está bem. Mas eu fico no carro e você entra.
- Está bem, senhorita. Como achar melhor.
E foram. Nicoleta estava nervosa e irritada porque estava nervosa. Por que tinha que ficar assim por um homem que mal conhecia e que ainda por cima a achava uma criança idiota e mentirosa? Mas ele não ia mais botar os olhos nela. Não se dependesse da sua vontade. Um rapaz rico e bonito como ele... não era mesmo para o seu bico, Nicoleta. Sua pretensiosa.
- É isso mesmo. – Nicoleta estava falando sozinha de novo.
- Que disse, senhorita?
- Ah, nada. Nada mesmo. Eu estava só...
- Pensando alto...
- Como sabe?
- A senhorita sempre pensa alto.
- Ah, sim?
Roberto olhou pelo retrovisor e riu. Mas reparou também que a senhorita estava torcendo as mãos daquele jeito só dela. Estava nervosa. Por que será, ahn? Claro! Por causa do Sr. Fonseca Campos! Então... será que... bem, isso não é da sua conta, Roberto. Fique na sua que você é só um motorista e mais nada. A senhorita lhe trata bem, conversa com você, mas não esqueça o seu lugar.
- O que disse, Roberto?
- Eu? Ah, nada.
Roberto ficou sem graça e procurou mudar de assunto. O carro rodou pela cidade por bastante tempo.
- Chegamos.
- Já? Dessa vez passou rápido.
- É que já está se acostumando com as distâncias.
- Ah... pode ser... – E torcia os dedos.
- Bem, e agora? O que faço? Entro sozinho ou não?
- Bem... bom... já que estou aqui, vou entrar. Não fica bem eu ficar no carro, não é?
- Claro, senhorita. Então vou anunciá-la.
Roberto desceu e deixou Nicoleta esperando. Logo voltou e abriu a porta do carro para que descesse. Entraram por uma bonita varanda e entraram em uma esplêndida sala. Nicoleta olhava aquilo tudo maravilhada. Aquela sala conseguia ser ainda mais bonita que a da mansão do seu tio. Era tão cheia de coisas lindas, quadros, objetos de arte, tapetes, móveis... Nicoleta não conseguia fechar a boca.
- Boa noite, senhorita...
Mas ela não estava ouvindo extasiada com toda aquela beleza.
- Senhorita?
- Ahn? Ah!
- Boa noite, senhorita Nicoleta – Era ele. Otávio.
- Desculpe, estava distraída. É que tudo é tão bonito...
- Quer conhecer a casa?
- Ah, não, me desculpe, é que tenho que ir logo, senão todos vão ficar preocupados.
- Está bem. Um outro dia então.
- Sim, quem sabe?
- A senhorita disse que tinha um recado para mim?
- Ah! Claro! A senhora estava ainda mais aflita. Me disse que lhe falasse para não fazer o que pretende no dia 22. Que era caso de vida ou morte...
- Meu Deus... que mistério é esse? Senhorita, se importa de me descrever a senhora novamente?
- Não. Ela é alta, pele alva, muito bonita, cabelos negros muito bem presos. Olhos claros e tristes. Usava um vestido branco e um grande chapéu.
- Se parecia com essa mulher? – E Otávio lhe mostrou uma fotografia que tirou da carteira.
- Sim! É ela mesma!
- Senhorita, por favor...
- O que? O que foi?
- Está brincando comigo. Só pode ser...
- Eu? Me acha mesmo com cara de brincalhona, Senhor? Pois isso já é demais. Demais mesmo. Roberto já deixou o documento? Então vou embora agora, já.
Otávio ficou olhando Nicoleta sair entre aborrecido e triste. Aquela senhorita só podia estar mesmo querendo alguma coisa com aquela brincadeira de mau gosto. Passou pela sua cabeça que ela era jovem demais, talvez estivesse querendo chamar sua atenção e por isso inventara uma história mirabolante como aquela.
Nicoleta saiu com o rosto vermelho em chamas. Estava irada de verdade e com vergonha. Foi saindo sem olhar por onde e logo descobriu que estava perdida e não sabia por qual porta ir para o jardim. Isso mais a irritou.
- Precisa de ajuda? – Otávio surgiu outra vez na sua frente.
- Onde é a saída? – Nicoleta estava quase gritando.
- Escute, senhorita... não quis ofendê-la, mas...
- Esqueça. Não me ofendeu. Saiba que de hoje em diante não ouvirá nem uma palavra minha sobre esse assunto.
- É melhor assim.
- Bem que a senhora me falou que não acreditaria nela. Pelo jeito não acreditaria nem no fantasma da sua mãe se ele aparecesse na sua frente! E saiu, soltando faíscas pelo caminho que Otávio lhe indicou. Nem viu que o rapaz ficou parado sem saber o que responder. Nenhuma mulher lhe falara assim antes.
- Vamos embora, Roberto! E espero não botar mais meus pés nessa casa. Nunca mais!
- O que houve, senhorita?
- Não importa. Esqueça. E não me fale nem mais uma palavra sobre esse senhor Fonseca Campos.
- Está bem... se a senhorita quer assim...
- É, quero mesmo. Isso mesmo. – E ficou calada, mas seu rosto não disfarçava sua indignação.
- Mal-educado! – pensou alto.
- O que disse, senhorita?
- Nada! Não disse nada!
Roberto achou melhor ficar quieto porque hoje a senhorita estava uma fera. Alguma coisa de muito grave acontecera. Achou melhor não abrir mais a boca até chegar em casa.
- Boa noite senhorrita... A senhora quer falar-lhe agorra. – Assim que Frau Eva viu Nicoleta entrar, foi logo em sua direção.
- Vou tomar um banho, me trocar e volto logo.
- Não demorre, a senhorra não gosta de esperrar.
- Já percebi.
- Ela estarrá no escritórrio. – E saiu antes que Nicoleta pudesse abrir a boca para dizer qualquer coisa.
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- Psit!
Nicoleta estava distraída fechando o livro e fazendo suas últimas observações.
- Psit! Senhorita!
Tinha alguém chamando por ela. Olhou em volta e só viu dois olhos escondidos atrás da coluna de cimento da sala.
- Está falando comigo?
- Sou eu Srta, Roberto!
- Roberto? Por que está escondido aí dessa maneira?
- Ué. A senhorita me disse para ser discreto.
- Mas não tem ninguém aqui. Não precisava exagerar.
- Bem, senhorita, como quiser. – E saiu do seu esconderijo. – Já está encerrando o expediente? Vim para buscá-la.
- Ah, sim. Só mais um minuto e termino.
- Certo. – Roberto deu uma boa olhada em volta. – Como está suportando isso aqui, senhorita?
- É trabalho, Roberto. Trabalho é trabalho.
- Eu sei, mas...
- Nem mais, nem menos. Se alguém está querendo me assustar com tudo isso vai ver que não conseguiu. Além do mais está sendo muito bom começar aqui de baixo porque eu estou vendo coisas que me deixam abismada.
- Mesmo? O que por exemplo?
- Meu Deus, tantas coisas. Absurdos de todo o tipo.
- Mas o seu tio é uma pessoa tão boa... como pode?
- Também não sei... alguma coisa está muito errada aqui, Roberto. E eu vou descobrir.
- Cuidado, Senhorita Nicoleta, cuidado, por favor... – Roberto ficava todo arrepiado só de pensar no que aquela jovenzinha poderia estar se metendo.
- Não se preocupe, Roberto. Eu sei me cuidar.
- É disso que eu tenho medo...
- Bem, estou pronta. Vamos?
- Sim, vamos. Direto para Botafogo.
- Ah meu Deus. Ainda tem essa. Já havia até me esquecido.
- Temos que ir, Senhorita.
- Bem, está bem. Mas eu fico no carro e você entra.
- Está bem, senhorita. Como achar melhor.
E foram. Nicoleta estava nervosa e irritada porque estava nervosa. Por que tinha que ficar assim por um homem que mal conhecia e que ainda por cima a achava uma criança idiota e mentirosa? Mas ele não ia mais botar os olhos nela. Não se dependesse da sua vontade. Um rapaz rico e bonito como ele... não era mesmo para o seu bico, Nicoleta. Sua pretensiosa.
- É isso mesmo. – Nicoleta estava falando sozinha de novo.
- Que disse, senhorita?
- Ah, nada. Nada mesmo. Eu estava só...
- Pensando alto...
- Como sabe?
- A senhorita sempre pensa alto.
- Ah, sim?
Roberto olhou pelo retrovisor e riu. Mas reparou também que a senhorita estava torcendo as mãos daquele jeito só dela. Estava nervosa. Por que será, ahn? Claro! Por causa do Sr. Fonseca Campos! Então... será que... bem, isso não é da sua conta, Roberto. Fique na sua que você é só um motorista e mais nada. A senhorita lhe trata bem, conversa com você, mas não esqueça o seu lugar.
- O que disse, Roberto?
- Eu? Ah, nada.
Roberto ficou sem graça e procurou mudar de assunto. O carro rodou pela cidade por bastante tempo.
- Chegamos.
- Já? Dessa vez passou rápido.
- É que já está se acostumando com as distâncias.
- Ah... pode ser... – E torcia os dedos.
- Bem, e agora? O que faço? Entro sozinho ou não?
- Bem... bom... já que estou aqui, vou entrar. Não fica bem eu ficar no carro, não é?
- Claro, senhorita. Então vou anunciá-la.
Roberto desceu e deixou Nicoleta esperando. Logo voltou e abriu a porta do carro para que descesse. Entraram por uma bonita varanda e entraram em uma esplêndida sala. Nicoleta olhava aquilo tudo maravilhada. Aquela sala conseguia ser ainda mais bonita que a da mansão do seu tio. Era tão cheia de coisas lindas, quadros, objetos de arte, tapetes, móveis... Nicoleta não conseguia fechar a boca.
- Boa noite, senhorita...
Mas ela não estava ouvindo extasiada com toda aquela beleza.
- Senhorita?
- Ahn? Ah!
- Boa noite, senhorita Nicoleta – Era ele. Otávio.
- Desculpe, estava distraída. É que tudo é tão bonito...
- Quer conhecer a casa?
- Ah, não, me desculpe, é que tenho que ir logo, senão todos vão ficar preocupados.
- Está bem. Um outro dia então.
- Sim, quem sabe?
- A senhorita disse que tinha um recado para mim?
- Ah! Claro! A senhora estava ainda mais aflita. Me disse que lhe falasse para não fazer o que pretende no dia 22. Que era caso de vida ou morte...
- Meu Deus... que mistério é esse? Senhorita, se importa de me descrever a senhora novamente?
- Não. Ela é alta, pele alva, muito bonita, cabelos negros muito bem presos. Olhos claros e tristes. Usava um vestido branco e um grande chapéu.
- Se parecia com essa mulher? – E Otávio lhe mostrou uma fotografia que tirou da carteira.
- Sim! É ela mesma!
- Senhorita, por favor...
- O que? O que foi?
- Está brincando comigo. Só pode ser...
- Eu? Me acha mesmo com cara de brincalhona, Senhor? Pois isso já é demais. Demais mesmo. Roberto já deixou o documento? Então vou embora agora, já.
Otávio ficou olhando Nicoleta sair entre aborrecido e triste. Aquela senhorita só podia estar mesmo querendo alguma coisa com aquela brincadeira de mau gosto. Passou pela sua cabeça que ela era jovem demais, talvez estivesse querendo chamar sua atenção e por isso inventara uma história mirabolante como aquela.
Nicoleta saiu com o rosto vermelho em chamas. Estava irada de verdade e com vergonha. Foi saindo sem olhar por onde e logo descobriu que estava perdida e não sabia por qual porta ir para o jardim. Isso mais a irritou.
- Precisa de ajuda? – Otávio surgiu outra vez na sua frente.
- Onde é a saída? – Nicoleta estava quase gritando.
- Escute, senhorita... não quis ofendê-la, mas...
- Esqueça. Não me ofendeu. Saiba que de hoje em diante não ouvirá nem uma palavra minha sobre esse assunto.
- É melhor assim.
- Bem que a senhora me falou que não acreditaria nela. Pelo jeito não acreditaria nem no fantasma da sua mãe se ele aparecesse na sua frente! E saiu, soltando faíscas pelo caminho que Otávio lhe indicou. Nem viu que o rapaz ficou parado sem saber o que responder. Nenhuma mulher lhe falara assim antes.
- Vamos embora, Roberto! E espero não botar mais meus pés nessa casa. Nunca mais!
- O que houve, senhorita?
- Não importa. Esqueça. E não me fale nem mais uma palavra sobre esse senhor Fonseca Campos.
- Está bem... se a senhorita quer assim...
- É, quero mesmo. Isso mesmo. – E ficou calada, mas seu rosto não disfarçava sua indignação.
- Mal-educado! – pensou alto.
- O que disse, senhorita?
- Nada! Não disse nada!
Roberto achou melhor ficar quieto porque hoje a senhorita estava uma fera. Alguma coisa de muito grave acontecera. Achou melhor não abrir mais a boca até chegar em casa.
- Boa noite senhorrita... A senhora quer falar-lhe agorra. – Assim que Frau Eva viu Nicoleta entrar, foi logo em sua direção.
- Vou tomar um banho, me trocar e volto logo.
- Não demorre, a senhorra não gosta de esperrar.
- Já percebi.
- Ela estarrá no escritórrio. – E saiu antes que Nicoleta pudesse abrir a boca para dizer qualquer coisa.
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