domingo, 23 de janeiro de 2011

Sobre as coisas impalpáveis

Sobre as coisas impalpáveis






Basta acontecer
Não importa onde
Desde que atravesse o nada
Sem ser convidada
E se chame memória
Na pele tatuada
Transparente tanto quanto
Um pensamento na cabeça
Que, impalpável, pulsa o dia
Por incrível que pareça

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O mundo, segundo o menino

Eu experimento o mundo
Com a boca
Eu vejo o mundo
Com as mãos


Provo, sinto
Cuspo
Engulo
Só assim eu sei que é quente e frio


Quando é frio, esfrego
Quando é quente, assopro
Quando espeta, cuido
Quando afaga, fico


O mundo é uma meleca
Com a qual faço uma bola
E enquanto enrolo penso
Pra que serve  esse lugar?


O mundo é uma música pra dançar


Não ria
Isso é pura filosofia
Não ria
É melhor que a sua teoria


De que o mundo é um lugar
Pra vencer e dominar
Pra vender e comprar
Para ter e aparentar

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Sem saber

É sobre você
mas não saberá


É com você que sonho
mas não saberá


É por você
o meu olhar feliz
mas não saberá


É pensando em você
que os pés caminham
mas não saberá




Ficará na dúvida
mas não saberá


Indagará ao espelho
mas não saberá


É ao adormecer
que me encontrará




Que incólume permaneça
esse inconfesso sentimento


Que a reciprocidade não se revele
pois nenhum de nós [dela] saberá




Eliana Pichinine - www.versoseanversosfotogenicos.blogspot.com

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Vida do amor


Minha fé no amor
É um pé de maracujá
Rastreando o chão
Em busca de algum lugar
Onde possa dependurar
Os frutos

Olho pela janela
Vejo que ele espicha
As opções são poucas
O mato cresce ao redor
Vem o cachorro e mija
A lagarta come

Maracujá de quintal

E o futuro cheiro inebriante da fruta
Mora nas sete folhas e três brotos
Que conseguem sobreviver

Sete folhas e três brotos
Entre a vida ou a morte do amor

Texto bacana

Marla de Queiroz (blog: http://doidademarluquices.blogspot.com/).
Um ano novo!

O que eu desejo para o novo ano é suavidade. E um bocado de alegria. E desejo também perdão: a mim mesma que sou passível de erros, mas que não preciso e não devo viver mergulhada na culpa. Desejo também carinho: uma alma acariciada fica doce, desvendada, amorosa. Desejo coragem, porque o medo paralisa e impede a melodia nova e é preciso arriscar para continuar (re)criando harmonias. Desejo muita inspiração, porque as palavras sempre me fizeram a companhia mais maciça para a solidão genuína que sinto. E foram elas que consertaram muitas dores ao longo da minha caminhada, coisas que só pude curar investigando, compartilhando, tendo aqui meus cinco dedos de prosa com vocês. Desejo um pouco de disciplina, pois um ser criativo precisa de rebeldia, mas também de horários e planejamentos. Desejo desapego pelas pessoas, mas um pouco mais de ambição material porque ninguém sobrevive apenas de metafísica. Desejo maturidade. Quando se tem maturidade, dá-se melhor o valor que tem cada coisa, sem supervalorizar o que é irrelevante ou subestimar um pequeno aprendizado. Desejo muita paz: um coração sossegado entrega-se com mais confiança. Desejo saúde e disposição. Desejo proteção espiritual. E desejo continuar sendo merecedora dessa boa sorte de falar e poder ser atentamente ouvida, de calar e ser respeitada, de amar e ser correspondida, de atrair pessoas de coração bom e muita sensibilidade, e de poder descobrir a cada dia que a verdadeira erudição está na simplicidade.

Não mais assim


Sabes que és uma flor pequena no deserto?
E que isso em nada desfaz teu encanto
Andar à esmo e achar-te
Tal presente não tem preço

Sabes que existe um deserto, pois não?
Aí fora, além das árvores bonitas?
Sim, há
Pequenos e grandes
De todos os tipos

Por trás de paredes pintadas
Olhos maquiados
Perfumes importados

Sabes, não sabes?
Dentro de carros blindados
De belas vitrines
Dos jardins floridos
Ainda aí...

E saber que és uma flor pequena
Me alegra
Que não queres ser uma das raras
E por isso mesmo
És

Sabes que és do tipo raro
Porque num deserto
Nunca nascem flores

Até que resolvestes
Que não seria mais assim