quarta-feira, 21 de dezembro de 2011


Adeus  Olá


Chegou a hora
Vou mexer de novo
Em meus guardados
Por um prazer sei lá
De ficar perto
Do que costumo chamar... eu

Doze badaladas virão
E aqui está o meu baú
Um ano já me basta
Para transbordar

Tanto que talvez seja preciso
Mesmo vasculhar
Essas coisas todas que juntei
Mas eu já sei
Nada vou desperdiçar

O que fiz
O que chorei
O que não quis
O que cantei

No primeiro minuto
Do primeiro dia
Um primeiro ano
Outra vez

E a mágica será
Quando o pano levantar
E o palco vazio surgir
O eco de minha voz vai dizer
Adeus, olá, fui viver!


MMt - Poema e fotografia

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida.




(Carlos Drummond de Andrade)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Pó da estrada


O pó da estrada
Desenhou no ar
De repente
Sinais
Em direção ao sol
Avisos
Para ir por ali
Ver o que há

Eu fui
Virei a esquina
E era o mundo
Que estava por lá
Tantas peles, tantos olhos
Gente comendo e bebendo ar

Montanhas de pessoas
Procurando, o que?
Viver... viver... amar

Sandálias no pó do chão
Pressa de ter
Possuir o pão
Bandeiras manchadas
Com a fome alheia
Cobrindo a mesa da ceia

Gente com olhos vidrados
Num falso eldorado
Entulhando avenidas
Lataria reluzente


Febre de poder
De gente sobre gente

Mas era tudo pó, de repente
E eu repensando o caminho
Dei a volta fiz a curva
E teci o meu cadinho



O Quadro


Espero pintar o quadro um dia
Em que surjam meus temores
Minhas dores, meu desejo
Meu chulé e meu cecê
Coisas que não posso esquecer
O primeiro beijo
Minha mão tocando sua cara linda
Os cheiros de rio
De cio
Isso eu tenho que pintar
Para nunca mais perder
As palavras, os poemas
Pensamentos que ninguém ouviu                               
Minha caixa de fitas
Meu pote de melado
Aquele dia de frio
O violão e o vinho
Quero pintar tanta coisa
Quero que caiba de um tudo
Minhas fotos amarelas
Uma voz no microfone
O meu CD do Paulinho
Os meus livros da Clarice
O que eu disse
O que não disse
O beijo que eu roubei
Os que peguei emprestado
Minha renda
Seu brocado
Tudo eu quero ali pintado
Num retrato bem parido
Que eu coloque na parede
E me prove todo o dia
O fato de eu ter vivido

Mais importante que viver


MAIS IMPORTANTE QUE VIVER


Mais importante que viver
É ir ao vento
Parando sobre flores e carcaças
Morte e nascimento

Mais importante que viver
É sair para a  rua
Falar com pessoas
Criar uma coisa e outra
Olhar o céu, viver o azul
Coisas assim

Mais importante que viver
É beijar
E se possível apaixonar
Sentar-se sob a mangueira
E comer mangas
Sujar a barra da roupa
Em terra de verdade

Isso é mais importante que viver

Acordar sem ter nada o que fazer
E dormir tendo feito tanto
Sem saber


Ter um sorriso guardado
Uma janela aberta
Uma música soando
Mesmo que no pensamento

Dar um telefonema
Contar  uma piada
Não ter planos e tudo acontecer
O inesperado, o sonho, a surpresa...

Isso é mais importante que  viver!



LÍNGUA NA FILOSOFIA


Penso pensamentos muito sérios
E uma boca em minha pele escorre
Volto ao raciocínio responsável
E sua língua embola meus conceitos

Me concentro na filosofia
Da coisa certa e da coisa errada
Penso que a idéia é necessária
Mas sua voz sussurra e a espanta

Penso... suas mãos em minha idéia
Volto... ao raciocínio... em sua boca
Penso... sua boca... em minha tese
E seu conceito... escorre... em minha língua

Minhalínguanafilosofia
Todointeironoseuraciocínio
Opensamentogritaemmeusouvidos
E o pensador explode em... um... insight!

MMt

Ùltima Fila


Saia do centro das idéias, do meio das atenções
Seja um pouco periferia
Abdique de ser o número um
O maioral
O sabe tudo
Vá para o último lugar
Da última fila
E veja, veja
O quanto tudo pode mudar
Dependendo de onde você está

Abra mão de ser o mais amado
A pessoa mais importante do planeta
Vá  para um canto e observe
Você  vai ficar admirado
Deixe de lado o pensamento
Que o mundo gira em seu umbigo
Fique um pouco de banda
Sem maquiagem
E idéias mirabolantes
Veja
Veja como tudo pode mudar
Dependendo de onde você está

(Marielza Tiscate)

Cortinas brancas

(Marielza Tiscate)

Me fecho em um quarto imenso
Que tenho por dentro
Me sento a um canto
Voltado pro norte
E é dali que te vejo
Mover-se em teus dias
Atento

Eu sinto o ancestral silêncio
E a paz com que dizes
Não eu não vou por aí
E não há ninguém aqui
Nesse espaço de te ver
Pegar o carro e sair
Com a música na pele

Depois fecho a porta
E volto pra sala onde há luzes
Pessoas me falam de coisas e coisas
Respondo a todas
A tudo me dou
Sem a ninguém oferecer
A chave de meu lugar
De olhar
O vento nas cortinas
De tua alma
 
Me leva com você
Pelos ventos à fora
Pelos beijos à dentro
Nas dobras de um silêncio

É inútil falar:
Tudo entre nós é tão leve
Somos borboletas e flores
Folha ao vento de qualquer lugar

Me leve com você
Num canto da sua memória
Ninguém deve mesmo saber
As marcas de nossa história

Para Carlos

Beija-me


Beija-me
Te peço
Por que tanto guardar os meus suspiros
Num impossível lugar
Onde não posso ir?


Beija-me
Suplico
Não mais me impeça de sentir
O quente rubro de meu sonho
E o doce lírio do desejo

Beija-me
Pra que guardar o mel
Para amanhã talvez quem sabe
O dia é sempre uma surpresa
E pode ser que nunca chegue

Beija-me
Agora já que é lua cheia
A noite veio com estrelas
E eu quero hoje mesmo comê-las

(Marielza Tiscate)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011


Por si







Hoje vi em minha pele a tatuagem transparente
E as lembranças submersas pela máquina do tempo...
Não sei onde ela foi feita, me parece em todo o corpo,
Me parece em toda parte
Pois me sinto mergulhada em seus traços feito à língua.
Algum dia...
Algum dia eu fui sua...

Hoje mesmo, no espelho, vi meu corpo esculpido
Por seus dedos delicados, por seus dedos abusados
 – chave dos meus labirintos.
Justo agora que abriu-se a janela da memória
E agora que desejo lua, estrela e sol ardente
Ouço a voz em meu ouvido e o segredo dos segredos:

Você está apaixonada por si mesma...


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Yourself







Today I saw the tattoo on my
transparent skin
And the memories submerged by the time machine ...
I do not know where it was made,

I think on the whole body,
It seems everywhere
Because I'm immersed in their lines made by the tongue

 
Someday ...
Some day I belonged to you ...

Just today, in the mirror, I saw my  body
 
Sculpted for your delicate fingers, abused fingers
  - The key of my mazes.

 
Right now that  was opened the window of my memory
And now that I want the moon, stars and burning sun
I hear the voice in my ear and the secret of secrets:

You're in love with yourself ...

Túmido

Não sei porque meu amor
És desse jeito túmido
Eu que nem sei o significado
Recordo o ar à sua volta e penso
Túmido
Até agora não sei meu amor
Porque isso
Uma palavra longínqua
Bordando saudade
Em meu pensamento
Túmido túmido
Rio dessa bobagem
Uma palavra me veio à cabeça
Antes mesmo que eu pensasse
E com ela flutuando
O seu rosto
Túmido
Será que é bom, meu amor
Ser túmido?
Será que é elogio?
Espero que a palavra não seja
Uma total maluquice de meu cérebro

Antes porém, meu amor
Que corras para saber
O que túmido mesmo quer dizer
Para o caso de não saberes ainda
Saiba que quando penso túmido
Meus olhos molham na lembrança
De algo quente e suave
Que nunca prende
Mas escorre

Só que agora fui lá ver
Que túmido quer dizer inchado
É melhor ficar com a poesia
E deixar o Aurélio de lado
Mari Mari Tiscate 
 
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tumid

I do not know why my love
You're like that Tumidus
I do not even know the meaning
I remember the air around you and think
tumid
So far I do not know my love
The why of it
A word far
embroidering miss
In my mind
tumescent tumid
I laugh at this nonsense
One word came to mind
Before I thought
And with it, floating
 Your face
tumid
Is it good, my love
Being Tumidus?
Is that a compliment?
I hope this word is not
A total craziness of my brain

First, however, my love
That you racing to khow
What it means Tumidus
For the case of no further knowledge
Know that when I think Tumidus:
My eyes moistened with the memory
Of something warm and soft
Who never holds
but flows

But now I went to see
What tumescent means: swollen
It is best to stick with poetry
And let the hand of Aurelio (dictionary)
 
Mari Mari Tiscate

O mito de adão e eva


Você me quer mulher sem igual?
Digo sim, meu senhor
Claro, meu senhor
 
Você me quer suave, meiga?
Imediatamente, é pra já.
O que você quer que eu mude vou mudar
O que quer que eu faça vou fazer
Não é assim que tem de ser?
Desde sempre, toda a história?
Porque assim você me quer?

Venha para cá, deite-se aqui
Fique quietinha não fale
Deixe que eu faço o resto
Não pense, não reclame
Não nasceu para pensar
Tão pouco para dizer o que quer
Não deve nem saber do seu querer!
Deixe que eu diga a você
O que é bom
O que é ruim
Me dê sua mão, obedeça
O caminho que eu ofereça
É por onde você deve ir

Sim senhor, grão vizir
Obedeço meu sultão
Meu rei, meu príncipe encantado
Meu deus, meu amado
Dono do Eldorado
Meu paraíso perdido

Me chame apenas de homem
É mais moderno, mais bonito

Meu homem, sim senhor

Não fale mais desse jeito, pega mal
Não é bom, que dirão de mim?
Me chame pelo meu nome, fica melhor assim

Sim Zé, sim João

E não fique só no fogão.
Vá estudar, se formar
Trabalhe pra me ajudar
Assuma a obrigação
Pague as contas do mês
E fique sempre cheirosa
Pra minha satisfação

Sim querido, assim será
Já vou correndo a loja e ao salão
Pra você vou ficar linda
Pra você vou me enfeitar

Faça isso, faça sim
Você é a parte delicada
Gostosa e bem arranjada
Mas pequena parte de mim


Mari Mari Tiscate (Poemas antigos)
 
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The myth of Adam and Eve


Do you want me like no other woman?
I say yes, sir
Sure, my lord
Do you want me soft, sweet?
Immediately, it's for now.
What do you want me to change I will change
Whatever I do I do
Is not that what has to be?
Historically, the whole story?
Because you want so?

Come here, lie here
Be quiet do not talk
Let me do the rest
Do not think, do not complain
You was not born to think
Nor to say what you want
Should you not even know!
Let me tell you
What is good
What is bad
Give me your hand, obey
The path I offer
This is where you should go

Yes sir, Grand Vizier
I obey my sultan
My king, my prince charming
My God, my beloved
Owner of the Eldorado
My lost paradise

Just call me man
It is more modern, more beautiful

My man, yes sir

Do not ever speak that way, takes ill
Not good,  What they will say of me?
Call me by my name, it's better that way

Yes Joe, yes John

And do not just on the stove.
Go to study, graduating
Work to help me
Assume the obligation
Pay the monthly bills
And always smelling
To my satisfaction

Yes dear, so will
I'll run the shop and the hall
For you', I'll be beautiful
For you I will decorate

Do it, do so
You are the tricky part
Tasty and well arranged
But small part of me

Mari Mari Tiscate (old poems)