quarta-feira, 30 de março de 2011

Onde você foi parar

(Elizabete levantou de mal humor e escreveu esse poema-desabafo, mil anos atrasada)



Quanta poeira nos olhos
Nessa beira de estrada cheia de bares
Fumaça,  mundo, fumo
Na esquina que acabei de virar
Deixei você rodando

Chamei chamei
Gritei por você
Sacudi seus sentidos torpes
Bati na sua cara boba
E cobri seus olhos fixos
Na saia das mulheres

Não adiantou
Você come restos que jogam no chão
E pensa que é comida
Os farelos de fumaça, mundo, fumo,
Pensa estar de pé
Acha que é bom
Rastejar assim pelas vielas

Nada adiantou
Meus urros e lamentos
Virei a esquina
Saí da cidade
Daquele fundo sem fundo
E hoje não pergunto mais
Onde você foi parar
O SEU RETRATO
(Herculano Neto)

O seu retrato já não
me incomoda
o seu sorriso já não
me incomoda
o seu perfume já não
me incomoda
sua lembrança já não
me distrai.


 http://palcomp3.com/herculano/#!/o-seu-retrato

http://herculanoneto.blogspot.com/

sem bússolas
sem mapas
sem rotas

nem mesmo sei onde estou

o meu caminho é feito de encruzilhadas
de tamburellos
de labirintos

desvios

nenhum  acaso me guia




Herculano Neto
http://herculanoneto.blogspot.com/

Young at Heart (Jovem no Coração)


Gripada e na cama, acabei por assistir a um documentário inesquecível chamado "Young at Heart", contando a história de um coral de pessoas cuja média de idade é de 80 anos. Me emocionei, refleti e depois me surgiu esse poema abaixo:


sobremorrer


Veja meu aceno
Na beira da estação
Vou para algum lugar que não aqui
Veja meu olhar
Sem medo ou aflição
O gosto de aventura é maior
que a saudade
Não chore por perder
Faça valer os minutos
E diga adeus sem culpa
A sua vida
Pertence a você
Mas a minha vida não
Acene para mim
Sorrindo e em paz
Daqui a um pouco mais
Estaremos num  mesmo trem


http://www.youtube.com/watch?v=mJM5cCWZLb0&feature=related

segunda-feira, 28 de março de 2011

Sem bandeiras (música nova)







Todos os dias peço ao vento
Para acalmar a minha fé
Que deposite aerados  beijos
Em meu coração que arde

Todos os dias busco as estrelas
Quero tanto vê-las brilhando em mim
Sem dizer nada
Iluminar à estrada
E ser feliz assim

Todos os dias peço para falar menos
Para singrar os mares sem bandeiras
De mocinho ou pirata
E não conquistar nada de ninguém
Além do amor

quarta-feira, 23 de março de 2011

Clarice Lispector



Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.









(publicado por Dulce Helena Dias no Grupo Cordel Carioca, do Facebook)

estranha bruma

Eu recostei meu rosto no peito dele

e o carro seguia dentro da noite

a estranha bruma e a estrada

diziam de um silêncio absurdo

e sem sentido

entre nós


mas as palavras não cabiam

naquele adeus cotidiano

nem promessas

surpresas

nada


era apenas a vida a dois

escorrendo


havia a lua no céu

convidando ao estranho

ao inusitado estalar de um beijo


mas não

eu apenas recostei meu rosto em seu peito

e o carro me levou

para algum lugar que eu não sei

Capim

Quem me dera
ser verde
amigo do vento
matar a fome
esconder os pequenos
das grandes patas
dos bichos de aço
quem me dera
ser igual
gêmeo
de outros verdes
casa igual
dos que todos acham
que podem pisar
e achar tudo importante
como uma gota de chuva
uma beira de rio
um grilo
que pode nos curvar
viver em todo lugar
e ainda assim ser verde
lar dos pequenos
que se escondem
dormem
e têm o direito de existir
ali

Pablo Neruda

 Se cada dia cai


Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência."




(Minha amiga e grande poetisa Eliana Pichinine enviou esse poema pra Elizabete )
 Histórias da Elizabete





Parte 2



Acordei como se nem fosse Elizabete.



segunda-feira, 21 de março de 2011

Histórias da Elizabete - Capítulo 1





1 1 " Risco de Cair!



O livro mais importante que li foi um infantil. O Equilibrista. Isso deve dizer muito sobre mim. Diz que eu entendo bem o que é o risco de cair. Quero falar disso.
Na verdade eu quero falar.
Quero falar, falar, falar. E também quero dizer que esse título me ocorreu, como quase tudo, de repente e do nada.
Para quem não entende do assunto e já nasceu seguro de si, essa é a marca principal dos que vivem em risco de cair. Quando acontece algo é por acaso. Veja só, um nome bacana deste que tornaria rica uma pessoa predestinada (tomara que não tenha tornado ainda, porque aí ainda por cima seria plágio), em nós é algo de um prazer fugaz. A delícia de se sentir dono de uma genialidade instantânea que vai tirar você da lama para sempre. Esse prazer, esse deleite é típico dos que habitam essa região das estatísticas e que podem despencar flagorosamente a qualquer segundo.
Por isso vou começar tudo com a imagem que uma taróloga gratuita da internet me passou: uma montanha. Um platô na montanha e o abismo ali embaixo, a dez passos. Uma paisagem linda logo depois dele. Montanhas silenciosas, o eco como linguagem, Aquela visão espraiada da grandiosidade do que poderia ser se você não tivesse que cair de lá de cima para chegar.
Lembrei de Chico Buarque e Ney Matogrosso num clipe: “Quando eu nasci veio um anjo safado, um chato de um querubim, que me falou que eu estava predestinado, a ser todo ruim...” Aquele clipe é fantástico... mais fantástico ainda é ser cantado por duas bocas famosas, bem sucedidas, e que nem precisariam cantar essa música. Tudo bem. Os que vivem em risco de cair às vezes resvalam nessa mágoa invejosa... eu, pelo menos, tenho bom humor e um pouco de compostura para sempre acrescentar depois dessas observações, que isso, na verdade foi resultado de uma luta deles e que passaram por ditaduras, foram para Londres e fizeram outras músicas mais famosas ainda lá, porque simplesmente são geniais e conseguem transformar uma música censurada em motivo de orgulho nacional. E são, de verdade. Eu amo o Chico Buarque. A primeira coisa que fiz quando consegui (bem recentemente) ter uma internet que preste foi ouvir, ler e ver tudo o que eu podia do Chico Buarque. Para vocês verem que não é implicância gratuita ou mera inveja, meu blog tem uma página de fundo, que é uma foto de uma página do livro do Chico, Leite Derramado.
A questão não é essa, de inveja. Isso é só um resvalo ocasional. A questão é que quando eu nasci o anjo safado estava ajudando ao Chico Buarque.

Mas hoje acordei com esse nome de livro e corri para o computador. Deveria fazer uma pesquisa antes para saber se já tem algum de alguém que ganha dinheiro com a idéia maravilhosa que acabei de ter, mas não sei porque não quero pesquisar nada.
Antes de tudo tenho essa vontade incontrolável de desabafar. Quero escrever, como estou agora escrevendo, sem corrigir nada, como um vômito e um frêmito avassalador no estômago. Porque realmente é uma idéia muito legal. A classe dos que vivem em risco de cair por mil motivos é imensa. Muito grande mesmo. E, ao contrário do que talvez pensem, são pessoas que fizeram muitas coisas. Só não conseguiram pagar suas contas e viajar para a Europa com o dinheiro que entrou desse muito que fizeram.
Mas não quero simplificar a questão. Não é só sobre dinheiro que estou falando. O problema é que o risco de resvalar por um despenhadeiro também tem a ver com ser pra baixo. Ter uma auto estima de minhoca. Nem posso usar minhocas para criar uma idéia que traduza o que quero dizer. Quem corre o risco entende. Estar rastejando, mesmo que com classe, mesmo com unhas pintadas, cabelos feitos e sorriso no rosto para disfarçar. Ter livros, idéias, planos de negócios, projetos bacanas demais, tudo guardado num arquivo não digitalizado na memória. Um registro caótico do que poderia ter sido. Um grande risco dividindo o caminho entre o sentir que vivemos e o andar por aí resistindo.
Engraçado que a tal taróloga que falei me disse que eu corria o risco de ganhar milhões, mas que sem ela talvez eu pudesse não enxergar a porta de entrada para o paraíso. Bem, o legado dessa intervenção providencial na minha vida é que minha cunhada jogou na loteria, usando os números que a Dona... (não vou revelar o nome, é claro) me disse que poderiam me levar aos milhões. Vinte milhões para ser mais precisa. Que coisa.
O resultado da loteria saiu ontem. Ainda não liguei pra saber se já sou milionária nesse momento. Já pensou? Se estou aqui falando de risco e tal e nem precisaria mais? De qualquer maneira vou curtir esses meus últimos minutos no muro de lamentações.

Mas não. Não pensem que eu quero escrever um livro chororoso e tal. Eu quero mostrar a vocês a graça disso. Até porque acho, e meu irmão já me disse, que sou chorosa demais, que meus poemas são chorosos e tudo o mais. Descobri (ele me fez o favor de dizer) que eu era chorona quando menina. Minha única foto com, sei lá, três anos, era de chorona sim. Fiquei com essa imagem. Chorona.... chorona... e, para dizer a verdade, estou agora mesmo com uma vontade imensa de chorar dessa lembrança. Por que os irmãos mais velhos têm que dizer isso para os menores? Essas lembranças idiotas de como éramos patéticos. Tenho olheiras até hoje de tanto que chorei. O pior de tudo é que algumas lembranças que me fizeram o favor de ficar escondidas até bem pouco tempo, de repente, como se tivessem sido convidadas, vieram à tona, num curso profissional que eu fazia. Veja só. Eu estava me encontrando enfim numa nova profissão e aí emergiu uma recordação daquelas de matar. O resultado foram vários meses de terapia pra digerir um tanto daquilo.
É um negócio de louco.
A tal lembrança sacana, ficou se esgueirando, maldosa, e esperando um momento bem certeiro para aparecer. É isso aí. Agora eu já chorei tudo por ela e pintei um quadro. Está tudo bem, gente. Eu pintei um quadro dessa lembrança e deixei guardado. Pelo menos ela saiu de mim. Devo ficar feliz.
Será que o risco de cair é uma sensação plantada em nós? Teorias e mais teorias falam sobre isso. Implantes culturais, familiares, psicológicos, religiosos. Tudo isso é muito antropológico e muita gente viveu a vida inteira para provar que sim, é isso e aquilo e aquilo outro. Eu acredito. Acredito em tudo isso. Hoje em dia eu acredito mais que nunca em implantes. Por isso mesmo deixei várias práticas para trás. Elas simplesmente não explicam mais o risco. E o que é de verdade me parece uma grande incógnita agora. Chega um ponto da vida em que você não quer mais só boas teorias explicativas. Você quer ressurgir, renascer, respirar. E aí aquilo que repetiu tantas vezes vai para uma peneira. Eu pelo menos, hoje, tenho que me perguntar: isso faz com que me sinta melhor? Uma curiosidade é que na verdade pouca coisa faz com que me sinta melhor.  É sinalo de que tenho sim, que ser bem seletiva no que acredito. 
E, ainda por cima, adoro ficar no platô da montanha admirando a paisagem longínqua do sucesso e lamentando aquele abismão ali  no meio. 

Como agora mesmo. No computador teclando rápido para escrever um livro. E o abismo ali. Editoras, mercado, dinheiro, divulgação, editores, portas na cara, você é nada, impostora. Sabe quantos livros eu tenho publicados? Um. Quanto dinheiro isso me deu?Duzentos reais, a uns sete anos atrás. 
Mas uma outra taróloga havia me dito que não teria dinheiro na história. Foi tudo anunciado pelas cartas. Sem surpresas.

Puxa, isso cansa. Lembrar essas coisas cansa. E quando começo a cansar é que viro uma legítima frequentadora de estatísticas trágicas. Não sei quantos por cento da população ativa desiste de uma boa idéia no início. É porque cansa mesmo. Vem aquela certeza, não sei de onde, que isso não vai dar em nada. Uma trajetória tão rica em coisas largadas na beira do caminho, que essa agora também não vai levar a lugar nenhum. Olha só, o dedo, que antes estava quase em êxtase escrevendo no computador com volúpia, começa a escrever devagar.
 Estão sentindo o freio? Ele está vindo. 

 “Pare, pare. Quanta bobagem, começar mais um livro que vai ficar no HD de um computador sem utilidade nenhuma.” 

Péra aí. Sem utilidade não.
Vai ser uma catarse.
Ahá. 

“Idéias boas para catarse. Isso é coisa de fracassado” (Apresento o perseguidor mental de Elizabete).

Acho é que vou poupá-los de uma sequência de pensamentos em cascata que começam a surgir na minha cabeça. Marteladas e marteladas na minha auto estima.


Blá blá blá.


(se quiser continuar seguindo as histórias de Elizabete, aguarde o aviso)

domingo, 20 de março de 2011

Grande Amor

Eu pressinto um grande amor
Em nossas entrelinhas
Abre aspas
O silêncio
Amor sem palavras
Materialidade
Disposta em camadas
De pensamento
Trança e elo
Intraduzível coisa que nos une
Que o olho nunca viu
E as mãos
Também não
Fecha aspas

Chico Buarque - Cala a Boca, Bárbara

terça-feira, 15 de março de 2011

Nada Sei

Uma menina
Do outro lado
Do mundo de ninguém
Pensa em ser amada
Ou talvez apenas
Tocada, quem sabe?
Ela não sabe
Se isto é muito
Ou pouco

Uma mulher
Afogada no raso
De um nada sei
Vai pra esquina
Da sala de casa
Levanta a saia
E o dedo
Pega carona
No primeiro carinho
Que vier
Não pergunta porque
Não pensa em saber
Não aprendeu a perguntar
Abaixa o olhar
E agradece
Um cafuné
Um segundo de (má) atenção
Depois vira pro lado
E dorme no chão

Tudo em mim

Agora me espalho
Na cor rubra do sangue nas veias
Sou tinta, sou branca
Kaleidoscópio humano
Formo paisagens
bailarinas e diabos no papel de arroz
Tridentes e frufrus
Sou leve e flutuo
Meus azuis
Vermelhos ais e uis
Pintados e assinados


Agora sou o pulso do tambor
Bato no peito  com ardor
Arrasto a poeira nas chinelas
Pés descalços no terreiro
Vento nas saias de chita
Chama meu bem pra dançar
Redemoinho em par
Nas palmas, na roda, minha luz
Meus ais e uis
Cantados e dançados


Mascarada em Veneza
No palco sou eva sou ana
Na torre de Rapunzel
Muito longe do céu
Tranças de enroscar histórias 
Princesa, Messalina
Raiva incendiada de menina
Na cara da platéia
Que sorri extasiada
Com meus ais e uis
Minha cruz


Agora sou enfim
Rimas de contador
Destino de cordel
Folhas no varal
E o povo passando na feira
Livro de dizer histórias
De nascer, de perder e amar
Princípio, meio e
Ai de mim
Nem sei onde vou dar

segunda-feira, 14 de março de 2011

Eu meu será

Quando algo me sente
Tão forte, de repente
Que penso me afogar
Deixo vir
Deixo que vá
Não será o fim
Não será

Quando algo me engole
Tão novo, inocente
Que vejo o risco de quebrar
Deixo ser
Deixo chegar
Não será o fim
Não será

Que venham
As garras e unhas
Que cravem a carne
Sem contudo me acabar

Pois sou mistério mais profundo
O fundo do fundo
O fim do meu será

Carne de Flor

Você vê minha alma
Como nunca para mim
Vi
E tanto desfaz enganos antigos
Como se jamais existiram

Ela pensa que é primavera
Pensa que é sol
E chuva
E mostra a carne de flor

Está dormindo
Não a desperte
Sonha que mora
Em seu jardim

Dentro do Coração


Dentro de mim mora um filme
Com atores, cenas, paisagens
E também quadros na parede
De cores trágicas
Desenhos leves
Brancos
Transparentes

Moram duendes sem nomes
Fantasmas que arrastam correntes
Moram meninas cantoras
que choram

Dentro de mim
Um salão de baile
Príncipes de contos de fadas
Porões onde estão trancados

Moram livros e livros e livros
cantos, cantigas, canções
Tambores e mulheres de saia
Que rodam e riem

Dentro de mim
(e não saem de lá)
moram as partes que faltam
Do que me faz inteira

Sairiam
Se eu descobrisse
Qual a poção mágica que se usa
Para fazer crescer outras vez
Asas que foram cortadas
Para impedir o vôo

Me disseram que a chave do mistério
Está guardada num baú
No plano de fundo do auto retrato que fiz
Há mil anos atrás quando me avisaram
que eu era uma menina má

domingo, 13 de março de 2011

Direito autoral

Outro dia, numa roda de amigos, uma delas me falou com espontaneidade... "minha amiga adora seu CD para crianças... ela fez uma cópia do meu e seus filhos adoram."
Vi no seu rosto com clareza a total falta de má intensão sobre o assunto.
O raciocíonio que justifica isso é: se a amiga tem um aparelho que copia CD, por que não usá-lo? Se ela não tem dinheiro para adquirir ou se não tem tempo para sair e comprar, qualquer coisa assim, por que não copiar?
O problema é que o resultado, no meu caso, de ações assim é a diminuição catastrófica das minhas possibilidades de venda e de viver dignamente do meu trabalho com a música.
(E essa batalha não se resume a isso, saibam...)
Olha... assunto delicado...
Se você quer ouvir uma música, antiga, por exemplo, e  não há mais CD disponível, se existe mas é de difícil acesso... e se você tem acesso a programas e sites que baixam músicas na hora... por que não fazê-lo? É o pensamento atual.
Não fazê-lo porque aquela música não lhe pertence enquanto você não tiver direitos sobre ela. Nesse caso os direitos são dados por compra ou cessão, na forma da Lei. Pense antes: o artista, autor dessa obra, me deu ou cedeu para que eu possa usufruir? Se a resposta for não, force mesmo uma grande barra, nade contra a correnteza, seja ovelha negra, alvo de piadas... tenha coragem de parecer obsoleto, mas não use o que não adquiriu por direito.
Não use. Não ouça. Não copie.
Pense consigo: isto não me pertence, não posso ter ou usar.
Difícil, não?
Uma corrente que, fortalecida, na ponta, vai diminuir os casos de outros, em outras áreas, que dizem: eu preciso do que é seu, você não quer me dar, então eu pego à força.
E isso pode levar sua vida.
E tem levado.
Saiba com mais precisão aquilo que é seu e o que não é.
Não usufrua daquilo que não conquistou por direito, simplesmente porque isso não é uma maneira que nos leva a um estado de direito para todos.

Eu vou me esforçar a partir de hoje a falar e fazer o que digo.

Abraços!


sábado, 12 de março de 2011

Nada Sei

Uma menina
Do outro lado
Do mundo de ninguém
Pensa em ser amada
Ou talvez tocada, quem sabe?
Ela não sabe
Se isto é muito
Ou pouco

Uma mulher
Afogada no raso
De um nada sei
Vai pra esquina
Da sala de casa
Levanta a saia
E o dedo
Pega carona
No primeiro carinho
Que vier
Não pergunta porque
Não pensa em saber
Não aprendeu a perguntar
Abaixa o olhar
E agradece
Um cafuné
Um segundo de (má) atenção
Depois vira pro lado
E dorme no chão

Nunca Sei (Pensando no amor)



Vejo escorrer
Presto atenção
Gota de chuva no vidro da janela
Outra e outra
Sem parar...
Penso em partes de você
Quase reveladas
Quase que as bebo
E então somem-se em
Outra e outra
Uma só...
Nunca sei
O começo ou o fim
A não ser que eu abra a janela
E se abrir
Será você ou eu
Na água do desejo?
O céu desabando
De desejo
Pele molhada de quem?
Chuva ou suor?
Nunca sei
O começo ou o fim
Se é você
Se é em mim
Penso pra me consolar
Que ninguém
Nunca saberá

quinta-feira, 10 de março de 2011

Suave Coisa

não sei verbalizar
o abismo

sei cair
dentro dele
como dois olhos que eu avisto e temo

e o chão se demora -
amor -
a tocar meus pés 


Poema de Mariana Botelho
www.quelevequenada.blogspot.com

Longe

Longe
 

A chuva forte, o resfriado
real ou fingido, e eis-me livre
da escola e solto no meu quarto,
nos lençóis, nos mares de Chipre
ou no salão de Ana Pavlovna
ou no de Alcínoo, nas cavernas
de Barabar ou sob a abóbada
de Xanadu; perplexo em Tebas
e pelas veredas ambíguas
do sertão do corpo da língua,
cada vez mais longe de escolas
e de peladas e de bolas
e de promessas de futuros,
é mesmo errático meu rumo.
 
 
Poema de Antônio Cícero
www.antoniocicero.blogspot.com 
 
 
 

sábado, 5 de março de 2011