sexta-feira, 15 de junho de 2012

Os que partem


Onde está você
Já começo a esquecer

Seu nome inteiro

Cuidado
Seu risco é calculado?

Não sei mais o que foi
Que lhe deixou de lado

Meus dias são assim

Sem pena nenhuma
Dos que partem

Pelas paredes


Só faço suspirar
Nem janela não há
Só faço esperar
E não arredo pé
Ah não tenho o que dizer
Não sei o que fazer
Aqui nesse lugar
Que não é boca
Nem dedos
Que não tem voz
E não geme

Que não sabe confissões
Para declamar ao corpo
Ah suspiros só
Nem janela
Qual!
Janelas são para quem finge
Eu amo pelas paredes
Arrastando as unhas 

MMt
15.06.2012

Que tudo passe

que tudo passe
passe a noite 
passe a peste
 passe o verão
 passe o inverno 
passe a guerra 
e passe a paz
 passe o que nasce 
passe o que nem
 passe o que faz
 passe o que faz-se
 que tudo passe 
e passe muito bem




Paulo Leminski
in Caprichos e Relaxos 
Quando eu tiver setenta anos
 entãovai acabar esta adolescência 
vou   largar da vida  louca
terminar minha  livre docência 
vou fazer o que meu pai quer 
começar a vida com passo perfeito 
vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
 de virar um pilar da sociedade

e terminar meu curso de direito 
então ver  tudo em sã consciência 
quando acabar esta
 adolescência



 Paulo Leminski
in - Caprichos e Relaxos 

terça-feira, 12 de junho de 2012

Na porta de casa









Seu encantamento
não é meu
E eu tenho ficado na janela
esperando uma gota
Uma gota
do seu olhar encantado
estendido sobre mim

Quanto pensamento gasta
por aí
tanto encantamento por nada
Enquanto eu, meu amor esperado
já estou na porta de casa
sem saber
se devo ficar ou sair

Tristezinha

uma espécie de tristeza baixou aqui
tristezinha quieta
sem lágrimas
fina
tristezinha
feita de um silêncio
que gira
a sala
a vida
as lembranças
e de tudo que se vê
não fica quase nada
pra sorrir
e mesmo assim
sorri
um sorriso tristinho
fino
sorrisinho
quase querendo dizer
que chora
mas não diz
olha as paredes
da sala
da vida
das lembranças
e de tudo que  vê
fica quase tudo
mudo
tristezinha
tristezinha
calma
que dói sem alarde
fina
vagarosa
insone
que dói
dói
e tímida
não chama por ninguém 

MMt
12.06.2012

Fera


Às vezes o tigre em mim se demonstra cruel
como é próprio da espécie.
Outras, cochila
ou se enrosca em afago emoliente
mas sempre tigre;disfarçado.

Carlos Drummond de Andrade

(Enviado por Eliana Pichinine www.versoseanversosfotogenicos.blogspot.com)

domingo, 10 de junho de 2012


O segundo eterno


O segundo eterno
Passou por mim
Molhado de beijos
Foi chuva de estrelas
Sobre meu corpo

O que se vê agora
É o silêncio iluminado
O rastro em meus pelos
Poeira sideral
Nos cabelos

E o cheiro inconfundível
De universos
Ansiados
Achados
E perdidos


MMt 10.06.12


Meu filho

Guardado na semente,
Guardada a terra boa
Pra você nascer.
Pura poesia para um dia,
Em que o sol  chamar seu nome
Em mim.

domingo, 3 de junho de 2012

Saia de mim poesia


Saia de mim poesia
A que nunca escrevi
A que é dura e fria
Saia de mim
Esgueirada assim
Nas entranhas
Não me deixa sorrir
Nem voar
E o meu canto é triste
Saia como um vômito
Como um vento desenfreado
Montanha à fora
Que seja assim
Saia 
Já é hora

O que pode haver
De tão difícil a dizer?
Saia para ver
Poesia calcificada
Grudada nas paredes do meu coração
Me impede de viver
O sim e não
O nunca mais
Adeus
Por isso mesmo
Batem na minha cara
Saem
Voltam
Fazem o que querem
Dormem gozam somem
Tudo porque não sei quem é você
Poesia louca
Saia para que eu possa ter
A alegria perdida
Um instante só inteira e leve
Sem a pena que espera
Parada eternamente
Sobre a vida



sábado, 2 de junho de 2012


                                                                       Foto: Anna Mariani

Casa antiga


Hoje pensei:
Sou uma fachada de casa antiga
Pelo tempo carcomida
De barro e suor construída
Repintada em cores fortes
De rosas e azuis para cima
Plantada em pleno sertão

Gente sofrida mora nela
Mas a fachada é colorida!
Encanta um tanto
Os calangos, os caboclos
O cacto solitário
A horta seca
A poeira da rua

Não é feia
É colorida!
É quase uma surpresa
Sua cor inesperada
E há tanta gente de fora
Que adora!